Eu com 18 anos, com 13 alunos. Tinha alunos que eram maiores que eu. Lembro-me que não foi muito fácil, sobretudo onde fiquei colocada, no concelho de Odemira, numa escola isolada, no meio do campo. Só a escola. Não estava habituada a este aglomerado. Os lugares são pequenos aqui no Alentejo, a escola está inserida no aglomerado populacional – lá no meio dos sobreiros. Lembro-me que o meu pai me foi levar e chegou lá e disse: “Não, tu aqui não ficas. Não ficas aqui.” Não havia telefone, nada. E, numa casinha próxima, perguntámos onde é que os professores ficavam e a senhora disse: “Os professores dormem na escola” – “Na escola!?” – “Sim, sim. Dormem ali na sala de entrada, os professores têm estado aí, têm dormido na escola”. E o meu pai disse: “Não vais ficar aqui, não vais dormir na escola”.
Voltámos e fomos a Beja, falar com o o diretor escolar, que, nessa altura, os assuntos ainda eram tratados assim. Ele, coitado, com muita pena minha, viu uma menina de 18 anos, parecia que tinha 13 ou 14: “Olhe, é assim, veja lá se consegue ficar, porque se recusar o lugar, depois é exonerada e fica sem poder concorrer. Veja lá”. Então lá voltámos. O meu pai foi-me levar de novo, com muita pena… então consegui uma senhora, para aí a um quilómetro da escola, que me arranjou um quarto. Entretanto, tinha de passar por um ribeiro, para ir à escola. Eu disse: “Então, quando isto tiver mais água, como é que isto se atravessa?” A senhora disse: “Costuma ser com um burro. Há aí um senhor que tem um burro…”.